quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Repetição


O conceito repetição surge em psicologia e psicanalise através de Sigmund Freud (1856 – 1939) e está intimamente ligado ao conceito de compulsão.

Embora seja, habitualmente entendido na sua patogeneidade, a repetição está presente na nossa psique e no nosso quotidiano. É a repetição que possibilita ligar e recriar pensamentos, símbolos, objetos, situações, vivencias, emoções, sentimentos, etc. Permite ensaiar numa base sólida conhecida, o novo, está na base da simbolização e do pensamento. Permite associar, ouvir ou ler de novo um pormenor que escapou, importante para o entendimento, num quadro de referencia importante. É a repetição que permite a criação de ritmos que rege a nossa vida psíquica e que transforma todo o repetido em novo.

Em 1920, com a obra “Para Alem do Principio do Prazer”, Sigmund Freud relaciona compulsão com repetição para dar conta de um processo inconsciente que o individuo não consegue controlar e que obriga constantemente a repetir sequências para assim poder resolvê-las, isto é liga-las, reelabora-las. Esta situação ocorre com vista à significação psíquica, à compreensão do sofrimento. Este autor chegou à conclusão de que um individuo que sofreu um trauma está sempre a repeti-lo não com vista a aumentar o seu sofrimento mas com vista a possibilitar que haja união desse trauma, em especial da dor de forma a apazigua-la. Esta situação é muito comum, particularmente nas neuroses de guerra nas quais é frequentemente serem relatadas repetições constantes de ideias, imagens e pensamentos que provocam variados distúrbios pela inquietação e perturbação que contêm.

Portanto, a compulsão à repetição provem do campo pulsional do qual o caracter de insistência tende a ter um caracter conservador. Tanto a repetição como a compulsão à repetição, embora sejam diferentes, em psicologia clinica esfumam-se numa só descrição, ficando o caracter normativo ou patológico (excessivo) apenas para a compulsão À repetição que significa que um individuo tem tendência - compulsão – para a repetição.

Faz parte do inconsciente, é a rememorização do sofrimento ligado a um traumatismo. Ainda a este propósito a compulsão à repetição e a repetição ficaram associados ao exemplo dado por Sigmund Freud, da brincadeira Fort Da, do seu neto. Dos relatos da brincadeira Fort Da, salienta-se que quando a sua mãe saía, o neto de Sigmund Freud, Ernst, costumava atirar um carrinho de linhas para longe dizendo “Fort” e depois quando o puxava dizia: “ohm, da”, fazendo isto constantemente. Em alemão “Fort” quer dizer Fora e Da quer dizer dentro. Nesta brincadeira repetida, vezes sem conta, o pequeno Ernst ia ensaiando tomar controlo do sofrimento passivo que advinha da sua mãe sair de casa à tarde e este ficar sozinho e abandonado. Ao repetir constantemente o atirar do carrinho para longe e depois puxa-lo até si, a criança tomava controlo do seu sofrimento, uma vez que dominava as entradas e saídas da mãe. Esta situação não obedece ao princípio do prazer, mas sim a uma repetição da dor constante e que indica, não que um individuo tenha tendência para provocar constantemente dor a si mesmo mas que há uma impossibilidade de escapar a um movimento de regressão independentemente do seu conteúdo. Esta regressão foi descrita por Sigmund Freud como uma regressão ao repouso, ao estado de tranquilidade que existia antes do sofrimento ter irrompido o psíquico e ter levado o individuo ao sofrimento. A compulsão à repetição ficou então associado à tentativa do aparelho psíquico não só tentar apaziguar o sofrimento provocado por um traumatismo através de união e reunião de associações como também uma tentativa para voltar ao estado de bem-estar anterior ao sofrimento que lhe foi infligido.

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