O
conceito repetição surge em psicologia e psicanalise através de Sigmund Freud
(1856 – 1939) e está intimamente ligado ao conceito de compulsão.
Embora
seja, habitualmente entendido na sua patogeneidade, a repetição está presente
na nossa psique e no nosso quotidiano. É a repetição que possibilita ligar e
recriar pensamentos, símbolos, objetos, situações, vivencias, emoções,
sentimentos, etc. Permite ensaiar numa base sólida conhecida, o novo, está na base
da simbolização e do pensamento. Permite associar, ouvir ou ler de novo um
pormenor que escapou, importante para o entendimento, num quadro de referencia
importante. É a repetição que permite a criação de ritmos que rege a nossa vida
psíquica e que transforma todo o repetido em novo.
Em
1920, com a obra “Para Alem do Principio do Prazer”, Sigmund Freud relaciona
compulsão com repetição para dar conta de um processo inconsciente que o
individuo não consegue controlar e que obriga constantemente a repetir
sequências para assim poder resolvê-las, isto é liga-las, reelabora-las. Esta
situação ocorre com vista à significação psíquica, à compreensão do sofrimento.
Este autor chegou à conclusão de que um individuo que sofreu um trauma está
sempre a repeti-lo não com vista a aumentar o seu sofrimento mas com vista a
possibilitar que haja união desse trauma, em especial da dor de forma a
apazigua-la. Esta situação é muito comum, particularmente nas neuroses de
guerra nas quais é frequentemente serem relatadas repetições constantes de
ideias, imagens e pensamentos que provocam variados distúrbios pela inquietação
e perturbação que contêm.
Portanto,
a compulsão à repetição provem do campo pulsional do qual o caracter de insistência
tende a ter um caracter conservador. Tanto a repetição como a compulsão à
repetição, embora sejam diferentes, em psicologia clinica esfumam-se numa só
descrição, ficando o caracter normativo ou patológico (excessivo) apenas para a
compulsão À repetição que significa que um individuo tem tendência - compulsão
– para a repetição.
Faz
parte do inconsciente, é a rememorização do sofrimento ligado a um traumatismo.
Ainda a este propósito a compulsão à repetição e a repetição ficaram associados
ao exemplo dado por Sigmund Freud, da brincadeira Fort Da, do seu neto. Dos
relatos da brincadeira Fort Da, salienta-se que quando a sua mãe saía, o neto
de Sigmund Freud, Ernst, costumava atirar um carrinho de linhas para longe
dizendo “Fort” e depois quando o puxava dizia: “ohm, da”, fazendo isto
constantemente. Em alemão “Fort” quer dizer Fora e Da quer dizer dentro. Nesta
brincadeira repetida, vezes sem conta, o pequeno Ernst ia ensaiando tomar
controlo do sofrimento passivo que advinha da sua mãe sair de casa à tarde e
este ficar sozinho e abandonado. Ao repetir constantemente o atirar do carrinho
para longe e depois puxa-lo até si, a criança tomava controlo do seu sofrimento,
uma vez que dominava as entradas e saídas da mãe. Esta situação não obedece ao
princípio do prazer, mas sim a uma repetição da dor constante e que indica, não
que um individuo tenha tendência para provocar constantemente dor a si mesmo
mas que há uma impossibilidade de escapar a um movimento de regressão independentemente
do seu conteúdo. Esta regressão foi descrita por Sigmund Freud como uma
regressão ao repouso, ao estado de tranquilidade que existia antes do
sofrimento ter irrompido o psíquico e ter levado o individuo ao sofrimento. A
compulsão à repetição ficou então associado à tentativa do aparelho psíquico
não só tentar apaziguar o sofrimento provocado por um traumatismo através de
união e reunião de associações como também uma tentativa para voltar ao estado
de bem-estar anterior ao sofrimento que lhe foi infligido.
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