quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Frustração


Frustração pode ser traduzido como um estado de mal estar que ocorre quando uma pessoa se sujeita a uma contrariedade importante ou quando é proibida a realização de desejo com aquisição de um sentimento de satisfação em face de uma exigência de ordem pulsional.

Segundo Sigmund Freud (1856 – 1939), os seres humanos tornam-se neuróticos por causa da frustração. A primeira resulta do conflito entre os desejos libidinais e os ideiais, levando a que o desprazer, a insatisfação se imponham ao prazer. A frustração segundo este autor implica a presença de um elemento exterior que é recusado em face de uma exigência de maior nível - exigências egoicas, exigências sociais, morais, éticas, entre outras - .  Para Melanie Klein (1882-1960), dentro das conceções de relação de objeto e remontando às relações precoces, a frustração do bebé está associada à ausência do seio materno que o sacia, alimenta e lhe dá calor e conforto.

 

A noção de frustração está sempre associada à tolerância para suportar o desprazer ou a ausência de um objeto externo/interno que vá de encontro com o desejo. Está sempre presente a marca do permanente conflito entre o ego e a libido.

Sobredeterminação


A sobredeterminação é um termo da filosofia e pode ser traduzido como sendo uma modalidade singular de cada objeto. É esta modalidade que leva na sua relação a outras formas de cada objeto operar, que geram a um dado efeito. Foi rebuscada para a psicanalise em particular na “Interpretação dos Sonhos” (1900). Sigmund Freud afirma que cada um dos elementos de um sonho é sobredeterminado e como que representado diversas vezes nos pensamentos do sonho. A sobredeterminação confere um valor maior a elementos de menor importância de tal modo que estes podem penetrar no sonho. A sobredeterminação não tem estatuto de mecanismo de defesa mas é uma ação psíquica associada à proteção da psique. Faz parte do trabalho de condenação que ocorre num sonho, podendo dar origem a múltiplas interpretações. Dito de outra forma, um sintoma ou uma situação que ocorre sendo da responsabilidade uma ação que pode não ter apenas uma causa subjacente, não estando pois dependente de uma só interpretação.  A sobredeterminação esclarecida por Jean Laplanche (1924 - 2012) e Jean Bertrand Pontalis (1924 - 2013) não implica que o sonho possa ser objeto de inúmeras interpretações ou que implique a independência das diversas significações atribuídas mas que deverá ser analisado assente na ação sobredeterminada.

Catarse


Tem origem grega e já era usada por Aristóteles. Pode ser compreendida como um processo de purgação ou eliminação das paixões que se produz no espetador quando assiste este assiste à representação teatral de uma tragédia. Em psicologia clinica e em psicanalise o sentido deste conceito não varia daquele utilizado noutros tempos - necessidade de libertação de medos, angustias ou opressões. A catarse pode ser compreendida como a reação de um individuo que em face de um dano, tem a necessidade de os eliminar. Está associada também à purificação da alma, contendo também um registo espiritual. Este conceito foi tratado por Sigmund Freud  (1856 – 1939) e por Josef Breuer (1842 – 1925) quando dos  seus estudos sobre a histeria. O método catártico refere-se ao procedimento terapêutico no qual o individuo consegue eliminar os afetos patogénicos, revivendo como numa peça teatral, os acontecimentos traumáticos a que estão ligados. A catarse deriva do hipnotismo e foi utilizado pelo autor para criar o método psicanalítico propriamente dito, baseado na associação livre.

Satisfação


Embora não corresponda sempre à realização de um desejo, a satisfação é a vivência de prazer associada à concretização de uma ação em benefício de um individuo. Depende habitualmente de um objeto externo real que é investido e modelo interiorizado que está ligado à fantasia e aos fantasmas. Também se encontra relacionado com o estado de desamparo no ser humano pois o organismo, inicialmente não pode provocar a ação especifica capaz de suprimir a falta, a ausência que vai gerando tensão e angústia. Em psicanalise o conceito satisfação surge descrito nas relações precoces, na constituição identitária do bébe ou da criança na sua relação ao mundo, ao outro, em especial à mãe, o primeiro objeto psíquico que lhe pode prover calor, afeto, saciação da sede da fome ou conforto. À satisfação subjaz uma necessidade que é suprimida. Por estar ligada ao objeto real, poderá ser reinvestida mesmo na sua ausência ao que se chama satisfação alucinatória do desejo. Esta satisfação alucinatória do desejo irá servir de base às posteriores procuras de um objeto satisfatório.. O suprimento dessa tensão necessita de um outro. Se novo estado de tensão emerge, a primeira imagem que o aparelho psíquico procura é a do objeto necessitado, sendo então revestida de desejo. Se este não é satisfeito, surge a frustração.

É através das necessidades egoicas que o individuo procura a satisfação que ao longo do seu amadurecimento vão se transformando, aproximando-se habitualmente da perceção e da realidade, afastando-se da alucinação.

Devaneio


O devaneio é o sonho diurno que implica um enredo imaginado tal como o sonho noturno. É vivido no estado de vigília. É a realização de um desejo com mecanismos de formação idênticos ao do sonho noturno, à exceção de haver um predomínio da elaboração secundária. Assenta também sobre impressões deixadas por acontecimentos infantis e beneficiam de um certo relaxamento da censura. Pode surgir com conteúdo alterado contudo carece de intensidade e importância ou enredo como o dos sonhos noturnos.

O estudo dos devaneios está exposta na obra de grande relevo para o assunto: A interpretação dos Sonhos, 1905, de Sigmund Freud.

Paixão


Paixão poderá ser traduzido como uma intensidade emocional psíquica e física sentida por outra pessoa. Este significado pode-se estender de forma sublimada a objetos, animais, convicções ou valores. Em psicologia clínica e também em psicanalise é considerada uma modalidade de relação de objeto  que se refere quer ao amor, ao místico, à coleção, ao jogo, ao mestre ou ídolo, com investimento libidinal transbordante do eu sobre o objeto  (único). Pode-se afirmar que a paixão está associado ao mecanismo psíquico de idealização, quer esta seja positiva – mais direcionada para o amor, contudo em excesso, ou negativa – mais orientada para o ódio. É pela intensidade do sentimento muito vivo com “cegueira” e enfraquecimento da razão, que a paixão poderá ser compreendida como a relação com o “grandioso”, só esse capaz de prover alguma coisa de bom ao individuo que sente paixão por. Pode cair sobre a procura incessante e para o inalcançável – a escolha de objeto anaclitico – e levar ao desequilíbrio psíquico grave, pela incapacidade de lidar com o extremo emocional. Temporário, inicio da relação amorosa e não só, ou infindável, desequilíbrio de personalidade.

Sigmund Freud (1856 – 1939), pai da psicanalise e teórico da sexualidade humana,  relançou sobre  a temática da paixão sobre a vida amorosa dos seres humanos, a interpretação de uma procura de anaclise sobre as pessoas que podem assegurar os cuidados e a proteção da criança, fazendo referência, dentro do narcisismo, à procura regressiva ao materno, ao ser infantil. Defende para a paixão, intensa e ideal, a escolha de objeto narcísica na qual o objeto é escolhido não pelo modelo da própria mãe mas pelo modelo da própria pessoa, sempre idealizado. A escolha do outro é sempre uma escolha idealizada, isto é, com frágeis laços sobre a realidade concreta desse mesmo outro, mas com aquilo que se impõe como idealizado.

Quando a paixão é assemelhada ao amor, amamos segundo o tipo de escolha narcísica o que fomos ou o que perdemos ou ainda aquilo que possui qualidade eminente que falta ao eu para atingir o Ideal. Amar é suprimir a falta do outro naquilo que ele é e pode satisfazer as necessidades do outro naquilo que ele comtempla como tal, é amor oblativo.

Ter uma paixão é procurar encaixar qualquer um, aquele mais semelhante a um ideal não vivido mas distorcido naquilo que se percecionou na infância, nas primeiras relações. É a procura de um ideal que é parte de si mesmo, no limite aceitável daquilo que é, o si mesmo e não, nunca, um outro, diferente, complementar.

A paixão possuiu o poder de suprimir os recalcamentos e restabelecer as perversões, elevando o objeto sexual à categoria de ideal sexual. Este ideal sexual deve ser entendido como procura de uma satisfação substituta e não uma satisfação com substituição simbólica, podendo ser entendida numa relação de assistência com o ideal do eu. Retorno ao narcisismo e procura de um outro (outro-bengala ideal) que possua as perfeições que um individuo não pode atingir.

Interiorização


A interiorização é um conceito e mecanismo muito utilizado em psicologia clinica e psicoterapia psicanalítica, traduzindo-se como um processo cuja operação fundamental é a passagem do externo para o interno, (i.é, determinada relação externa transforma-se em relação interna, na pessoa, o tipo de relação, o conflito, o compromisso, a interdição e o objeto ao qual se liga). É sinónimo do mecanismo de introjeção. Este conceito foi introduzido por Melanie Klein (1882 – 1960) e indica a passagem fantasmática de um objeto bom ou mau para o interior do individuo. Este objeto pode ser total ou parcial. A interiorização é o mesmo processo contudo diz respeito às relações, à passagem das relações de fora para dentro. Esta passagem só tem lugar quando existe a diferenciação psíquica do individuo em relação aos outros e ao mundo que o rodeia, uma vez que as relações e os conflitos, também eles têm que ser diferenciados para que possam ser vivenciados.